Sunday 19 May 2013



«O cultivo exclusivo de qualquer ciência apresenta igualmente perigos que ninguém de bom-senso desconhece. O estudo isolado das matemáticas falseia o juízo, habituando-o a um rigor que nenhuma outra ciência, e menos ainda a vida real, comporta. A complexidade da física e da química causa fastio e apouca o espírito. A fisiologia conduz facilmente ao materialismo, a astronomia corre o perigo de habituar à divagação, a geologia converte-nos em galgos que tudo farejam, a literatura torna-vos balofos, a filosofia incha, a teologia expõe-vos ao falso sublime e ao orgulho doutoral. Precisais de passar de um espírito a outro, a-fim-de os corrigir um pelo outro; precisais de variar as culturas para não cansar o solo.» (p.94)


«Por conseguinte, se quiserdes alcançar um espírito aberto, claro, verdadeiramente forte, começai por desconfiar da especialidade. Lançai as bases segundo a altura do edifício que quereis construir; os trabalhos de escavação serão tanto mais largos quanto mais fundo pretendeis chegar. O saber não é torre nem poço, é habitação humana.

Quando chegardes à especialidade, depois de ter experimentado muita cultura, amplificando o olhar e compreendido o sentimento das ligações pelas profundidades, sereis homens diferentes daqueles que se confinam numa disciplina estreita.» (p.93)

A.-D. Sertillanges, A Vida Intelectual —
Espírito, Condições, Métodos (1920), Trad. e Pref.
A. Pinto de Carvalho, Arménio Amado-Editor,
Coimbra, 1941. p.93; 94.

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